sexta-feira, 27 de abril de 2018

TRABALHAR MENOS HORAS FOI SEMPRE UMA CAUSA DE MAIO!

É quase consensual a ideia de que não é por trabalhar mais horas que aumenta a produtividade de uma economia.Hoje são vários os autores que escrevem sobre a libertação do trabalho e colocam a questão da possibilidade de se conseguir concretizar o «trabalho para todos».
David Frayne no seu livro em Le Refus du Travail resume-«sofrimento no trabalho e destruição ecológica têm a mesma fonte:uma organização neo taylorista do trabalho focalizada no rendimento financeiro e indiferente aos outros efeitos.Esta máquina de extarir o lucro esmaga o trabalho vivo,aquele que mobiliza o nosso corpo, os nossos sentidos, a nossa  inteligência, criatividade e empatia fazendo de nós, no confronto com o mundo, seres humanos». Este é um debate de grande actualidade.
O aumento do horário de trabalho dos funcionários públicos no consulado de Passos Coelho foi uma medida de propaganda para alemão ver e visando a redução de funcionários.Um trabalhador do Estado deveria fazer o trabalho de dois.Esta medida não resolveu nada e aumentou alguns dos crónicos problemas, nomeadamente nos sectores da saúde e da educação.Nunca como hoje se falou tanto na ruptura de alguns serviços públicos.Mas o que está verdadeiramente em ruptura são as pessoas, os trabalhadores.Aumentou o absentismo por doença física e psicológica, a violência e o assédio moral bem como o desejo prematuro de reforma antecipada.Hoje será difícil encontrar um funcionário que queira trabalhar até aos 70 anos, limite obrigatório para a aposentação no Estado.
Qualquer reforma dita estrutural deve passar pela diminuição do horário de trabalho ,tanto no sector público como privado e social.
Se bem se lembram, na decada de 90 do século XX, a luta pelas 40 horas para o setor privado foi uma das maiores mobilizações sindicais daquela década.No settor têxtil, milhares de mulheres batalharam como nunca pela redução do horário de trabalho!
Passados 132 anos da tragédia de Chicago, que marcou a luta operária pelas oito horas diárias de trabalho, ainda estamos a marcar passo.É tempo de uma redução do tempo de trabalho, numa primeira fase para as sete horas diárias para todos e posteriormente para as seis horas sem redução salarial.
O tempo e a saúde são os bens mais preciosos da vida.Não haverá vida digna sem saúde e sem tempo para descansar e fazer vida pessoal, familiar e social.
A luta pela redução do tempo de trabalho, para além das vantagens económicas numa sociedade tecnológica, é uma das mais importantes marcas de avanço civilizacional.Aqui está um dos grandes desafios para os movimentos sociais, em particular para as organizações de trabalhadores.A CGTP já tem este objectivo nas suas reivindicações.....A redução do horário de trabalho pode perfeitamente ser negociado ao nível da contratação coletiva, nomeadamente incluída nos acordos de empresa.As próprias autarquias poderão fazer acordos com as respectivas organizações sindicais para reduzirem o horário de trabalho.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

NO PRIMEIRO DE MAIO HÁ QUE PENSAR O SINDICALISMO!

Agora que nos aproximamos de mais uma comemoração da Revolução de Abril fundadora do actual regime democrático, e de mais um 1º de Maio, é importante relembrar alguns aspectos da nossa vida democrática.E a questão é a seguinte:que papel teve e tem hoje o Movimento Sindical na sociedade portuguesa?Que problemas enfrentamos?
Antes de mais convém lembrar que o Movimento Sindical Português, em particular a CGTP, teve um papel central na configuração do nosso regime constitucional.Foram as poderosas mobilizações sindicais que forçaram a importantes rupturas com o passado autoritário e fascista, impedindo cosméticas reformas e lançando os alicerces de uma segurança social pública, um serviço nacional de saúde, uma escola democrática e uma economia com forte intervenção do estado e  de participação das organizações de trabalhadores.Neste aspecto a transição portuguesa foi muito mais profunda socialmente que a espanhola.
Nas décadas seguintes e apesar da divisão partidária do Movimento Sindical Português, os sindicatos continuam a ser os principais baluartes na defesa de direitos sociais dos trabalhadores perante a contra ofensiva do capitalismo português.
Hoje , e apesar da solução governativa menos agressiva, temos profundas preocupações no que respeita à ação sindical e ao futuro do sindicalismo.Aqui deixo algumas das minhas preocupações que serão certamente partilhadas por muita gente:

1.Desertificação sindical em muitos locais de trabalho.Não apenas nas pequenas empresas e serviços mas também em grandes empresas com sinais claros tais como trabalhadores que deixam de pagar a quota sindical,outros que abandonam o sindicato, nomeadção/eleição do mesmo delegado sindical durante anos, sem renovação das caras, ausência de reuniões com os trabalhadores,etc.

2.Quase todos estes aspetos também se verificam nos serviços públicos onde efectivamente a ação sindical está mais protegida porque existe mais segurança do vículo laboral.

3.Diminuição do número de trabalhadores nas mobilizações sindicais.Muitos trabalhadores não acreditam na eficácia das lutas.Os dirigentes e delegados são o grosso das «tropas» em algumas mobilizações.

4.Diminuição do número de trabalhadores que aderem às convocações de greves.

5.Baixa participação em algumas assembleias de delegados sindicais.

6.Fraco apoio sindical à criação de outras formas de organização de trabalhadores como comissões de segurança e saúde no trabalho, eleição de representantes dos trabalhadores para a segurança e saúde e comissões de SST.

7.Criação de estruturas sindicais cada vez mais centralizadas e pesadas ao nível federativo e ausência de vida sindical nas uniões regionais.problemas financeiros de algumas organizações.

8.Insatisfação de alguns setores profissionais com os seus sindicatos tradicionais.Criação de pequenos sindicatos mais vocacionados para a resolução dos seus problemas.

9.Proliferação de organizações sindicais em alguns sectores profissionais onde o caso dos polícias é um exemplo extremo e preocupante.

10.Insuficiente renovação de quadros sindicais em particular nas federações e alguns sindicatos.

11.Insuficiente relação do Movimento sindical com o mundo académico e com outros movimentos sociais.

12.A formação sindical ocupa um lugar periférico nas prioridades sindicais e dos dirigentes.

13.A informação continua ainda num quadro mental do passado ligada à propaganda.Insuficente atenção à internet.

14.A dificuldade que o Movimento Sindical teve e tem em gerir o seu patrimómio , nomeadamente centros de férias e outros serviços importantes para os associados.

15. Insuficiente participação das correntes minoritárias históricas,( BASE-FUT/católicos, socialistas e oriundos do BE) nomeadamente na CGTP, e democrata cristaõs do CDS na UGT),sendo assim mais evidente o peso excessivo da corrente comunista na reflexão e no discurso sindical na primeira central e a dos PSD,s na UGT.

E não me alongo mais para não contruir um inventário que, por ser longo, tem pouca utilidade.O Movimento Sindical Português, em prticular a sua vertente mais dinâmica precisa de «arejar» de promover uma grande renovação.Uma renovação que passe por novos métodos de trabalho e debate, sem medo de errar ou sair  da linha oficial, de dizer coisas novas, tornando-se assim mais atractiva para a juventude trabalhadora, hoje mais escolarizada e ligada às novas tecnologias.Não defendo aqui o «sindicalismo online» mas há muito a fazer neste e noutros domínios.
Uma democracia sem sindicatos fortes e reivindicativos é uma democracia do «faz de conta».É sim uma partidocracia, uma governação de uma elite política , sujeita á lei das empresas, a lei do mais forte!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

OS PADRES DOMINICANOS E A LUTA PELA LIBERDADE!

A Ordem dos padres dominicanos vai fazer oito séculos este ano.Também é conhecida por Ordem dos
Pregadores e dos Mendicantes!O seu fundador, S. Domingos de Gusmão, de origem espanhola, reconheceu que a Igreja não estava a enfrentar os novos desafios do mundo em profunda transformação.O grosso do clero estava encostado ao feudalismo e à suas benesses.As correntes de reflexão divergentes da ortodoxia, denominadas heresias (cátaros, albigenses,etc.)que queriam uma Igreja mais pura faziam mossa no grande navio do Vaticano e nos poderes estabelecidos.
Domingos e seus amigos, tal como Francisco de Assis começaram a fazer críticas duras a uma Igreja acomodada e de mão dada com os poderosos.Apareciam aos olhos do povo como uma espiritualidade alternativa , embora radical.Em geral eram irmãos itinerantes do clero e leigos que para comer iam pedindo aos cristãos que encontravam e iam pregando o evangelho.Uma estratégia diferente, mais astuta,daquela seguida pelos herejes que acabavam no fio da espada!Nada queriam de propriedade e viviam e pregavam em pequenos grupos indo ao encontro dos desejos da nova classe de artesãos e pequenos burgueses que se queriam libertar das correias feudais.
É verdade que mais tarde os seguidores de Domingos e Francisco, após largos debates e divergências perante a crua realidade acabaram por se instalar nas grandes urbes e aceder aos grandes centros de ensino teológico e filosófico.Adquiriram propriedade coletictiva ,com conventos e universidades,tornaran-se muitos deles conselheiros de novos poderes e até, no caso dos Dominicanos, líderes da mais execrável instituição da História da Igreja Católica, a Inquisição.Inquisição que em Espanha foi criada precisamente por um célebre Dominicano e torturador o inquisidor Tomás de Torquemada (século XV).Porém , a Inquisição também matou Dominicanos célebres como Girolamo Savonarala (séculoXV) um profeta que queria transformar Florença numa nova Jerusalém e criar um novo mundo!E não podemos claro escquecer S. Tomás de Aquino que criou, inclusive, uma das mais importantes correntes teológicas-o Tomismo-fazendo uma inédita sintese entre a tradição dos Padres da Igreja  e a filosofia de Aristóteles!
E aqui chegamos a um aspeto interessante desta Ordem Dominicana.Sempre teve duas correntes no seu seio ,também constatáveis históricamente em Portugal , em particular no século XX após o seu regresso na década de cinquenta.Basta lembrar-nos que foi um Dominicano, o Padre Joaquim de Faria, que veio a público defender o Bispo do Porto, D. António, quando todos os conservadores e fascistas o atacaram privada e públicamente!Polemizou  e desfez todas as teses reacionárias do fascista Manuel Anselmo que considerava o D. António um «cripto-comunista» por defender teses de liberdade contra o corporativismo autoritário, de controlo e opressão dos trabalhadores e de partido único.Podemos ver esta questão no trabalho de João Miguel de Almeida no seu  estudo «A Oposição Católica ao Estado Novo 1958-1974).
Mas podemos ver também a ação de outros Dominicanos conhecidos que trabalharam pela liberdade do nosso País , animaram os grupos de cristãos contra a ditadura e a Guerra Colonial, defenderam os presos políticos  e suas famílias, e legitimaram a Revolução do 25 de Abril perante muitos católicos apreensivos!Estou a falar de um bom punhado de Dominicanos com destaque para o Frei Bento Domingues, um dos poucos teólogos portugueses e colunista do Público,o seu irmão Frei Bernardo, Frei João Domingos,  Frei Luis França, infelizmente já falecidos,Frei Raimundo, também já falecido, Frei Matias, Frei José Nunes, este de uma geração mais nova, e outros que deixaram a Ordem mas que continuaram o trabalho cívico como leigos.Isto para não falar da sua importância na consciencializção de milhares de católicos e religiosos/as e leigos/as já no domínio da Teologia com a criação do ISTA  e ISET instituições do ensino da telogia e da Bíblia.Os Dominicanos foram efectivamente uma das componentes mais sólidas da oposição católica à ditadura e de luta pela liberdade em Portugal.Creio que é tempo de se fazer justiça e fazer um trabalho de investigação sobre esta questão.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

FELICIDADE NO TRABALHO?

Nos últimos tempos assistimos a sinais contraditórios relativamente ao bem estar no trabalho ou,como dizem em alguns países nórdicos, felicidade no trabalho!Temos alguns inquéritos nacionais e europeus que nos mostram que globalmente são mais os trabalhadores que se dizem satisfeitos com o seu trabalho dos que se dizem mal ou pouco satisfeitos.A experiencia pessoal de cada um também é contraditória.Vemos companheiros em exaustão, esperando com angústia a reforma ou a mudança de trabalho e vemos outros relativamente satisfeitos com o trabalho, mesmo que este seja precário  e baixa qualidade.
Num seminário internacional alguém me alertou para a relatividade dos inquéritos sobre satisfação no trabalho.Existe uma grande carga subjectiva nestas matérias porque estamos efetivamente a lidar com pessoas situadas em determinados contextos sociais e económicos.Um desempregado que recentemente conseguiu um emprego com um salário pago a tempo e horas, mesmo que de pouca qualidade, terá a tendência de responder que está satisfeito com o seu trabalho.
Teremos assim que juntar um conjunto de elementos, de estudos e inquéritos para, eventualmente, se tirarem algumas conclusões.Por outro lado, temos os factores que contribuem para a felicidade que também não são iguais na consideração de um trabalhador nórdico ou português, precário ou permanente.Por exemplo o salário é um factor muito importante para a maioria dos trabalhadores portugueses enquanto para um nórdico contam mais outros factores como o reconhecimento do trabalho ou o bom ambiente no local de trabalho.
De todas as leituras, inquéritos e estudos podemos, no entanto, retirar alguns elementos comuns.Os ritmos de trabalho estão a intensificar-se em quase todas as profissões.As encomendas e a satisfação dos clientes comandam esses ritmos.O stresse aumenta , bem como as doenças músculo-esqueléticas e os riscos de origem psicossocial, nomeadamente a violência e o esgotamento.Cada vez mais o trabalhador aprecia a autonomia e o reconhecimento do seu trabalho.As medidas de prevenção dos riscos profissionais estão a ser progressivamente apreciadas bem como os apoios sociais, nomeadamente ginásios,creches, refeitórios.
Mais do que nunca é evidente que o capitalismo, na sua etapa atual, é patológico, ou seja, ao aumentar a exploração aumenta a doença em várias camadas de trabalhadores!

segunda-feira, 16 de abril de 2018

AUTOEUROPA:o produtivismo no seu esplendor!

A notícia é auspiciosa e digna de grande manchete num jornal:«A Autoeuropa vai conseguir produzir
mais dois T-Roc (carros) por hora até setembro, graças a um aumento da capacidade das linhas ligadas à àrea de carroçarias».Objectivo fantástico:poderão ser produzidos 29 carros por hora!!Para que tal aconteça fazem-se mais turnos,trabalha-se ao sábado e pede-se às entidades de solidariedade que recebam as crianças aos sábados nas suas creches.Até a Segurança Social entrou nesta dinâmica colaborativa e abrindo a possibilidade de outras empresas da Região fazerem o mesmo que a Autoeuropa.Tudo isto porquê?Porque a conjuntura é favorável ao negócio dos carros, existem muitos clientes que querem carros, imaginem, pois então!Isto passa na comunicação social sem grande reflexão, sem se ponderar o que estamos a perder e, em primeiro lugar, o que perdem os trabalhadores da Autoeuropa e das empresas satélites.
Estamos a perder a chmada «semana inglesa» que foi uma conquista importante.Não trabalhar ao fim de semana foi um importante objectivo social e económico.Mais tempo de lazer,mais tempo com a família, maior dinamização dos setores do turismo,cultura , hotelaria e transportes.Mais turnos significa mais trabalho, mais desregulação da vida familiar e social do trabalhador.Significa para as crianças mais tempo fora dos pais, mais tempo nas creches,onde comem, dormem horas e dias seguidos durante a semana.
O que se passa na Autoeuropa é a ideologia produtivista no seu esplendor!É regressão social e civilizacional! A produção de veículos é mais importante do que as crianças e a saúde e lazer dos trabalhadores.Perante esta situação tem algum sentido o choro das carpideiras políticas sobre os problemas demográficos, o envelhecimento da população? As palavras dos responsáveis têm algum sentido sobre o bem estar dos trabalhadores, as medidas de prevenção e segurança a conciliação da vida familiar e profisional?A própria Igreja Católica não coloca reservas nesta matéria onde se vislumbra claramente um atentado à vida familiar?
A ideologia produtivista do capitalismo mata e continua a matar com a nossa conivência!Estamos dispostos a destruir a coesão social, a saúde e o ecosistema pelo negócio,seja qual for!Estamos a assistir a uma revolução no domínio dos direitos.As multinacionais têm direitos soberanos, os seus accionistas fazem a lei.A esta situação só podemos dizer não com toda a força.Resistir a esta degradação, a esta submissão intolerável!

quinta-feira, 12 de abril de 2018

SOCIALISTAS, CATÓLICOS E COMUNISTAS!

O s socialistas foram os grandes animadores do nascente movimento operário português nas últimas décadas do seculo XIX. Grandes nomes da intelectualidade socialista como José Fontana, Oliveira Martins e Antero ficaram nas páginas da História, para além de muitos militantes desconhecidos que organizaram as associações de classe, cooperativas e mutalidades! Pouco antes da República no movimento operário português, ainda pouco consistente, começam as divergências. Os republicanos ganhavam terreno porque prometiam melhorar já as condições de vida e trabalho dos trabalhadores que viviam em situações precárias e miseráveis. Por outro lado, os anarquistas começaram a entrar nos sindicatos e cimentar uma corrente, o anarco - sindicalismo, que disputaria aos socialistas a orientação do movimento operário! Estes novos militantes atacaram a ambiguidade dos sociais- democratas, as tendências eleitoralistas do Partido Socialista. No período anterior á República os católicos agrupavam-se em associações (CCO) que juntavam patrões e trabalhadores. Houve grandes disputas a até lutas físicas com os socialistas em geral por causa de matérias religiosas e clericais. A reivindicação do descanso dominical foi o único ponto de união embora por razões diferentes. Após a Revolução republicana estas tendências acentuaram-se. A República começou a bater forte no Movimento operário e na Igreja. Nas greves de 1911/12 a repressão foi mais forte do que no tempo da monarquia com encerramento da Casa Sindical e prisão e deportação de centenas de militantes operários. Os trabalhadores guinaram á esquerda e aceitaram na sua maioria as teses anarquistas contra o Estado, a repressão e a política praticando a ação direta! O Partido Socialista ainda viria a dar luta mas foi perdendo inexoravelmente a animação das organizações de trabalhadores! Mais tarde até ao fim da Primeira República a luta seria entre os anarco-sindicalistas e a emergente corrente comunista dirigida pela Internacional Sindical Vermelha que tinha a seu favor a primeira grande revolução dos trabalhadores- a revolução soviética na Rússia dos Czares. Aos impasses da ação direta em que caíram os anarquistas, os comunistas levantavam a bandeira da Revolução russa severamente criticada pelos anarquistas que estavam também a ser dizimados pelos comunistas russos (bolcheviques). A ditadura salazarista que se foi consolidando a partir de 1934 com a destruição dos sindicatos livres, veio, embora em condições muito difíceis, abrir caminho aos que estavam melhor organizados e mais apoios internacionais tinham naquele momento- os comunistas. Os acontecimentos mais recentes são muito mais conhecidos por todos. É uma história complexa a resistência dos trabalhadores perante a ditadura. As dificuldades dos anarquistas e socialistas acentuaram-se, os comunistas numa primeira fase queriam criar sindicatos clandestinos até que veio uma ordem em contrário, aceite não sem reticências, e os trabalhadores católicos entraram para os sindicatos nacionais com o objetivo de os cristianizar. Numa segunda fase os comunistas entraram também para os sindicatos nacionais porque aí estavam os trabalhadores, os católicos frustram-se com a sua militância naqueles sindicatos e foram percebendo o caráter não democrático destas organizações. Um setor da militância católica ainda tentou criar sindicatos cristãos, mas Salazar travou tal objetivo. Os socialistas foram perdendo a sua organização, a sua afirmação e identidade própria no seio dos trabalhadores portugueses. A partir da segunda metade da década de sessenta do seculo XX socialistas, católicos e comunistas de diversas tendências trabalham para formar o núcleo de oposição sindical que viria a desembocar na Intersindical e, mais tarde, a CGTP-IN. Após o 25 de Abril, e no contexto do debate sobre a unicidade sindical, um importante setor dos sindicalistas socialistas (serviços) aposta por motivos políticos na criação da UGT numa aliança estratégica com os trabalhadores sociais- democratas do PPD/PSD. Outro setor socialista (operário) continuou apostando na CGTP. Esta clivagem no sindicalismo socialista foi uma das principais causas para a menor influência nos trabalhadores portugueses. Divididos os sindicalistas socialistas tiveram sempre muita dificuldade em influenciar as direções do PS e criar uma verdadeira autonomia face ao mesmo. Esta situação é particularmente confrangedora quando o PS está no governo e aplica políticas pouco trabalhistas e até de ataque a direitos dos trabalhadores. Momento particularmente confrangedor ocorreu com a assinatura pela UGT de um acordo tripartido, com Passos Coelho, governo da Troica, que continha normas laborais inconstitucionais! O principal obreiro deste acordo foi o socialista João Proença. Assim, os socialistas desta Central concordariam (?) com o tal Acordo enquanto os socialistas da CGTP o criticavam. A unidade dos sindicalistas socialistas é feita pelo partido e isso fragiliza-os perante os trabalhadores e perante o PS.
Com a mais recente criação política-governo PS com apoio do BE e do PCP-os sindicalistas socialistas poderiam ter uma ação particularmente importante na busca de uma alternativa mais sólida e não apenas para repôr rendimentos e alguns direitos.Na UGT aqueles sindicalistas encostam-se aos do PSD na crítica à CGTP apoiando por vezes as propostas dos empresários e suas associações.Na CGTP a tática partidária sobrepoe-se  a uma ação autónoma .Esta divisão e ambiguidade impedem que os sindicalistas socialistas não tenham mais força dentro de um partido que históricamente nasceu com o Movimento operário!

terça-feira, 10 de abril de 2018

OFENSIVA ANTI SINDICAL?

Nos últimos meses temos assistido a uma ofensiva contra os sindicatos em grandes empresas de dimensão multinacional.É o caso do conflito na  Volkswagen de Palmela, da Altice/PT, da Ryanair e da Groundforce entre outras.
Em todos os conflitos nas referidas empresas fizeram-se atentados à legislação nacional descaradamente ou através de artifícios jurídicos e hostilizaram os sindicatos ou procuraram prescindir dos mesmos ou, ainda, recusando a sua natureza de representação dos trabalhadores.Aqui e acolá vamos tendo também notícias da posição de gestores de grandes empresas que recusam alterar a legislação laboral porque se sentem bem com as alterações impostas pela Troika/Passos, nomeadamente no que respeita  à  contratação colectiva.Alguns, como o caso do patrão do Pingo Doce em entrevista recente a um jornal, também apontam na mesma direção, ou seja, de assinalarem que os sindicatos são um problema!
Estas manifestações convergem perigosamente com outras no mundo de negócios que pensam que o «modelo chinês», capitalismo de Estado de partido único, pode ser uma boa alternativa para os negócios!E com outros que também pensam em alternativas autoritárias ou fascistas como no Brasil e outros países da América latina e África.E em alguns países do Leste europeu onde governos quase fascistas são um paraíso para os negócios pois os sindicatos são marginalizados e os salários estagnados.Mas a ofensiva Macron,em França, com alguns ministros a criticarem a «cultura da greve» também é uma variante desta realidade.A realidade do neoliberalismo autoritário!
Perante esta ofensiva anti sindical que tem vários rostos, várias formas de actuar, várias estratégias, o campo popular e das organizações de trabalhadores têm muito trabalho pela frente.Colocar divergências para segundo plano, procurar a convergência e a unidade para a ação nacional e internacional,reforçar a formação e informação dos trabalhadores e cidadãos em geral.O capitalismo é uma serpente que, hoje mais do que nunca, muda rapidamente de pele.Explora-nos, serve-se do Estado para pagar os buracos dos bancos.Buracos que os mesmos capitalistas fizeram roubando o dinheiro alheio!Manda na maiorias dos jornais e televisões e, muito grave,
faz-nos pensar pela cabeça deles!Nunca vi tanta gente pobre a pensar pela cabeça dos exploradores!O que temos pela frente é uma grande tarefa.Defender a liberdade e a democracia avançada, com direitos e deveres, nomeadamente um trabalho digno, que nos realize como pessoas e não apenas que nos dê o sustento como escravos!

domingo, 8 de abril de 2018

COM A LINGUAGEM NOS TRAMAM!

O discurso manipulador ganha cada vez mais força na comunicação social, na linguagem política e até académica.No dia a dia vamos lendo e ouvindo palavras que parecem inocentes ou inócuas mas estão carregadas de ideologia da dominação.Vejam por exemplo: a maioria dos gestores e patrões já não fala em trabalhadores mas em colaboradores!Já não existem pobres mas vulneráveis ou carentes.Já não existem desigualdades mas assimetrias!Ultimamente até vi a expressão «bairros precários»para designar os bairros de barracas!
Ora é evidente que o que estas palavras pretendem fazer é ocultar a realidade.A linguagem serve aqui para esconder a crua realidade da economia que mata, para amortecer o efeito subversivo das palavras.Pelo discurso nos tramam e nos enganam.
Por isso me espanto quando de vez em quando alguém tem uma linguagem incisiva ou pedagógica, não redonda,que esclarece, que ilumina, que é efectiavmente o «verbo».Alguma literatura e a arte em geral tem frequentemente esse condão!
Cabe também aos movimentos populares e sociais a tarefa de descodificar a linguagem dominante, pretensamente técnica e amaciadora das contradições e da dominação.Com um discurso vivo e trabalhado e evitando, por sua vez, os clichés, as ladaínhas, as fórmulas gastas e repetitivas, vazias porque datadas no tempo!Eis aqui um campo que merece uma reflexão das organizações de trabalhadores.